- Mexendo numa gaveta do móvel da sala, chamado etajer, achei sem querer um documento de nati-morto. Eu sabia que minha mãe tinha tido uma filha que nasceu morta, ela me contou que precisava ter tomado um remédio para segurar a gravidez, mas não teve dinheiro e então perdeu a criança. Passou a noite inteira velando o bebê sozinha numa noite de tempestade. A criança foi enterrada numa caixa de sapato. Eu não prestei atenção a data, que estava naquele documento, mas era de novembro de 1960. Eu nasci em janeiro de 1961, como podia ser eu filha dela? Lembro-me de que, um dia, lá pelos meus 8 anos, de ter chegado em casa chorando, porque alguém disse na escola que eu era adotada. Minha mãe ficou uma fera, queria ir brigar com quem falou, não admitia em hipótese alguma de que isso podia ser verdade. O fato é que, eu estava de frente com uma evidencia de que ela mentia. Lembro também que quando eu perguntava onde é que eu nasci, ela dizia Bel For Roxo, noutra vez, Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro. Como podia uma mãe não se lembrar ou não saber onde seu filho nasceu? Enfim, aquele era um assunto de que ninguém falava nada.
O móvel da minha casa era desse estilo, só que claro e em cima dele, haviam muitos bibelôs.
Eu me achava um pouco parecida com a minha tia Natália, mas só, porque olhava fotos dos meus pais e irmãos e não encontrava nenhuma semelha, eles tinham a pele clara e eu era cor de jambo, eles tinham cabelos lisos e eu ondulados.
Essa foto foi tirada no quarto de minha mãe.
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