Já a minha mãe era sempre brava comigo, gritava muito, ameaçava sempre e me batia por qualquer coisa, então eu não morria de amores por ela é claro, mas respeitava, pra não perder os dentes, coisas das quais ela cuidou muito bem, por ter sofrido muito na infância, nunca descuidou dos meus dentes, me levava regularmente ao dentista e sempre me cobrava pra escovar direitinho. A unica hora em que ela era carinhosa era na hora de me acordar. Ela tinha tido uma infância ruim, aos 8 naos já ajudava o pai no bar. Sua mãe abandonou ela, a mais velha e seus tres irmãos menores e partiu com outro homem, segundo ela contava, sem olhar pra trás. Hoje penso, que minha mãe, como não teve amor de mãe, não sabia dar. Sua preocupação maior era com a minha alimentação e vestimentas. Das coisas que ela me contou de sua infãncia, uma delas é que só tinha dois vestidos. Uma vez, teve uma dor de dente tão tão grande , que abriu o dente com um alicate. Dá pra imaginar o grau de sofrimento? Que quando moça, pegou uma vez o vestido de minha tia emprestado para ir ao bailie, mas que foi descalça, porque não tinha calçado. No Natal seu presente era uma maça. Seu pai não deixava ela estudar, dizia que, quem estudava não prestava, e ela louca pra estudar, fez até o segundo ano só, ainda assim, escondido do pai. Casou-se para sair de casa, foi mãe aos 16 anos, uma das primeiras a se desquitar em SJC, sofreu preconceitos e com a lingua do povo. Seus filhos foram criados pela sogra e depois em colégio interno. Teve que se manter sozinha, bordando e fazendo bolos e salgados para fora, até conhecer meu pai.Em vista de tudo que já tinha passado ela agora devia ser muito mais feliz, porque tinha uma casa, que ao meu ver era a mais bonita da rua, pelo menos, os nossos vizinhos ao que me lembro, não tinham TV, nem móveis bonitos como os nosssos, também não tinham radio-vitrola

e nem ouviam música, como nós, que tínhamos muitos discos de tudo quanto é estilo musical. Minha mãe era alegre e cantava a plenos pulmões, suas músicas favoritas. Uma delas era: a marvada pinga, música de Enezita Barroso.
Marvada Pinga
Inezita Barroso
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Com a marvada pinga
É que eu me atrapaio
Eu entro na venda e já dou meu taio
Pego no copo e dali nun saio
Ali memo eu bebo
Ali memo eu caio
Só pra carregar é que eu dô trabaio
Oi lá
Venho da cidade e já venho cantando
Trago um garrafão que venho chupando
Venho pros caminho, venho trupicando, xifrando os barranco, venho cambetiando
E no lugar que eu caio já fico roncando
Oi lá
O marido me disse, ele me falo: "largue de bebê, peço por favô"
Prosa de homem nunca dei valô
Bebo com o sor quente pra esfriar o calô
E bebo de noite é prá fazê suadô
Oi lá
Cada vez que eu caio, caio deferente
Meaço pá trás e caio pá frente, caio devagar, caio de repente, vô de corrupio, vô deretamente
Mas sendo de pinga, eu caio contente
Oi lá
Pego o garrafão e já balanceio que é pá mor de vê se tá mesmo cheio
Não bebo de vez porque acho feio
No primeiro gorpe chego inté no meio
No segundo trago é que eu desvazeio
Oi lá
Eu bebo da pinga porque gosto dela
Eu bebo da branca, bebo da amarela
Bebo nos copo, bebo na tijela
E bebo temperada com cravo e canela
Seja quarqué tempo, vai pinga na guela
Oi lá
Ê marvada pinga!
Eu fui numa festa no Rio Tietê
Eu lá fui chegando no amanhecê
Já me dero pinga pra mim bebê
Já me dero pinga pra mim bebê e tava sem fervê
Eu bebi demais e fiquei mamada
Eu cai no chão e fiquei deitada
Ai eu fui prá casa de braço dado
Ai de braço dado, ai com dois sordado
Ai muito obrigado!
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