- Eu tinha ordens médicas de não poder varrer casa, passar pano e pegar peso. Mas como se faz isso, sem ter empregada e ninguém para fazer o serviço pesado? E ainda quando se tem duas crianças pequenas?
- Vicente saía cedo, voltava a noite, só via os filhos dormindo e se por acaso encontrava alguém acordado quando chegasse, ainda me questiona, porque ainda não estavam dormindo.
- Me sentia tão distante dele, que tinha vontade de mandar fazer um out-door com a nossa foto, dizendo bem assim:" Alguém aí quer uma família, eu e meus filhos estamos querendo ser adotados por alguém que queira ser meu marido e pai dessas crianças".
-Um dia eu estava indo ao super mercado, quando encontrei um tio dele, que estava indo saber notícias do acidente que meu sogro tinha sofrido. Ele me dizia que o Sr. Ico tinha quebrado as duas pernas e que a coisa tinha sido feia. Liguei para o Vicente, ele não sabia de nada, pedi a Maria, que ficasse em casa com minha mãe e as crianças e fui com o Vicente e o Donizete para o Hospital da Santa Casa em Caraguatatuba. Chegando lá, vimos meu sogro em coma e se sobrevivesse iria ter sequelas, ele tinha quebrado o braço, as costelas e as pernas. Assim que chegamos, ele faleceu. Ele trabalhava no Banco Nacional , levando malotes para Ubatuba e naquela manhã, bateu de frente com um opala, da prefeitura de Caraguatatuba, que vinha na contra mão. Naquele mesmo dia viemos para São José dos Campos, meu cunhado ficou de resolver tudo, o velório ia ser na casa da minha sogra, no outro dia. Naquela noite, Vicente se trancou no banheiro e chorou esmurrando a parede e brigou com Deus. Agora que os dois estavam se entendendo, por causa dos netinhos, Deus tinha levado o meu sogro, ele não se conformava.
- Naquela madrugada bem na hora em que aconteceu o acidente, o meu filho Lucas tinha sentado na cama e falou comigo umas coisas sem pé nem cabeça. Ele disse: tão cuidando da quiança no pital.
Que criança filho eu perguntei? E ele disse: A quiança que quebou o baço. Perguntei de novo, que criança filho? E ele respondeu, Já foi embora com o home e a mulé.
- Há vinte dias meu sogro tinha enterrado a mãe dele. Eu tinha ido visita-la, com ele, durante a gravidez do Mateus umas duas vezes, lá no asilo.
- Estávamos ainda sob os efeitos dos acontecimentos, quando Vicente ganhou uma indenização do Banco Nacional, ele mais cinco funcionários, haviam entrado na justiça porque foram mandado embora sem justa causa.
- Tive a ideia da gente comprar uma casa, o dinheiro não dava, mas vendendo o meu telefone e o dele, mais um pequeno empréstimo do patrão e uns dólares que ele tinha guardado, conseguimos comprar a vista. Foi tudo tão mágico, deu tudo tão certinho, que parecia até que o meu sogro já estava ajudando a gente lá do céu.
- Ainda antes de nós mudarmos, o Lucas começou a ter uma reação esquisita, dormindo ele sentava na cama e começa a chorar. Não parecia estar acordado, não parecia estar dormindo. Buscando ajuda, com uma pessoa espirita, ela nos disse que o espirito do meu sogro ficava perto dele, por gostar demais da criança. Então era preciso rezar para a alma dele. E assim foi feito.
- Mudamos para a casa nova, quando o Mateus tinha sete meses.
- A casa nova tinha sido construída pelo dono há três anos, ficava pertinho da casa da minha sogra e dava para ir em dez minutos. Ficamos felizes com a compra da casa, mas eu me sentia presa naquele lugar. Tamanha era a minha solidão, carência e infelicidade, que tentei me abrir com minha cunhada, mas ela era toda elogios para o marido e então eu me calei. Eu pensava, ela que tem sorte, meu cunhado gosta de sair bastante, é divertido, o meu marido é tão sério, tão caseiro e tão novo pra ser assim...sempre cansado. Ele tomava Rivotril e Tegretol, para evitar ataques epiléticos por isso, além do cansaço do trabalho e estudos, onde encostava dormia. Eu sempre me via falando sozinha na cama.
- Quando Mateus estava com oito meses, meu pai morreu, ligaram no trabalho do Vicente. Quando ele chegou em casa para me dar a notícia, eu senti perder a cor . Como ele sabia que eu precisava ir paro Rio a tempo de pegar o velório, tratou logo de comprar as passagens de avião. Chegamos cinco minutos depois que saiu o voo. Graças à Deus nos encaixaram no seguinte. No aeroporto, fiquei bem ao lado do cantor Emílio Santiago, mas eu só sabia chorar, não deu pra puxar conversa não.
Adorava ouvir, o cantor Emílio Santiago
- Chegando no velório com minha tia Natália e tio Paulo, que foram nos buscar no aeroporto , (nossos compadres que tinham vindo batizar o Mateus, quando ele fez quatro meses), encontrei também meu tio Rodolfo e fiquei ali ao lado dele. Havia um moço muito bonito, que eu perguntei para o meu tio, se era o meu irmão Rangelzinho, era. Havia uma mulher desesperada, chorando muito, em cima do caixão, era a Ana, a ultima companheira do meu pai, estavam juntos há seis anos. Eu nem conhecia e muito menos sabia que tinha mais três irmãozinhos,
Dia do batizado do Mateus aos quatro meses.
um chamado Irineu (Juninho) que era, um ano mais velho que o meu Lucas e os gêmeos de seis meses: Thiago e Diogo. Depois do velório, Rangelzinho me levou na casa da Ana para conhecer as crianças. Assim que pude, voltei lá e passei uma semana com a Ana para conhece-los melhor. A Ana ainda tinha um filho mais velho de 17 anos chamado Ronald, que vivia com eles. Os gêmeos eram iguaizinhos ao meu pai. Mano Rangelzinho também me levou para conhecer as minhas outras duas irmãs: Amália e a Sandra.
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| Juninho de pé e os gêmeos: Thiago e Diogo no meu colo. |





















